A psicanalista Letícia Lanz estará nesta quinta-feira (30), às 20h40, na OAB/SC, onde profere a palestra “O Corpo da Roupa”, durante o V Fórum Nacional das Comissões da Diversidade Sexual da OAB. O tema da palestra também é título do livro de sua autoria, um manual introdutório sobre estudos transgêneros, o primeiro escrito originalmente em língua portuguesa. Com passagens recentes pela mídia, como na série “Liberdade de Gênero”, do canal GNT, e no programa Amor e Sexo, da Rede Globo, Letícia Lanz iniciou sua transição em 2000, em meio a uma relação, na época, de 23 anos - hoje com 40. Tem 3 filhos e quatro netos.
Durante a palestra a psicanalista vai abordar temas que considera “fundamentais” dentro da área de estudos transgêneros. “Eu sempre gosto de falar sobre os conceitos verdadeiramente básicos da área, como é o caso de sexo, gênero e orientação sexual, que considero ponto de partida para discussões maiores e mais amplas”, explica. Letícia também vai falar da “completa naturalização do gênero na nossa sociedade”, que, de acordo com ela, fez com que gênero passasse a ser confundido com sexo, “levando a reboque a própria ideia de orientação sexual”. Serão situados ainda os conflitos da população transgênera na realidade atual do país e do mundo, e haverá espaço para a participação do público. “É essa interação que costuma transformar uma simples palestra num evento, em função da grande importância e significação dos temas que são aqui levantados e debatidos”, observa.
Sobre o tema escolhido para a palestra, Letícia explica que considera a roupa um bom ponto de partida para importantes investigações a respeito de gênero e sexualidade. “Ela (a roupa) tem um papel fundamental na criação de tipos específicos de corpos, estabelecendo distinções quanto à categoria de gênero, status socioeconômico, idade, etnia, religião, tribos urbanas. Não vestimos um determinado tipo de roupa por ser homem ou mulher, por exemplo, mas tornamos homem ou mulher exatamente em razão de vestir um determinado tipo de roupa. Na prática, a roupa é que diz quem nós somos - um cabide para pendurar o imenso aparato jurídico-institucional que constitui a nossa roupagem social”, explica.
Segundo Letícia, o termo transgênero, que é internacionalmente o “T” da sigla LGBT, foi criado para ser uma espécie de “guarda-chuva” conceitual, que abriga múltiplas identidades e expressões de gênero não-conformes, divergentes ou fora do binário oficial homem-mulher. A palestrante defende a necessidade de começar a olhar para as demandas que afligem a população transgênera como um todo, “como os direitos civis básicos que lhes estão sendo negados ou que nunca foram concedidos em razão da sua condição - e aqui todos nós sabemos que o Brasil não tem absolutamente nenhum escudo social protetor da população transgênera. Está tudo literalmente por fazer”, declara.
A psicanalista considera “oportuna e fundamental” a preocupação de algumas instituições em dar voz para o tema. “Diante de um poder público historicamente omisso com as causas sociais, é a contribuição gigantesca de instituições como a OAB que auxilia no avanço dos pleitos mais elementares da população transgênera”, reforça. Para Letícia, a instituição é, atualmente, uma das grandes “entidades-arquitetas” dessa imensa construção jurídica, onde se incluem direitos básicos e elementares, como a alteração do nome civil - livre de quaisquer embaraços processuais, e o uso de banheiros públicos de acordo com a identidade de gênero assumida. A palestrante também reconhece o trabalho desenvolvido pelas Comissões de Diversidade Sexual e de Gênero da OAB, “que vêm promovendo em todo o país ações absolutamente pioneiras e extraordinárias no resgate dos direitos civis da população transgênera”, enfatizou.
Psicanalista com especialização em gênero e sexualidade pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro e mestra em Sociologia pela Universidade Federal do Paraná, é também formada em Economia, com mestrado em Administração de Empresas pela UFMG. Tem em seu currículo especializações diversas fora do país, como nas instituições Health & Fitness Counselling, em Londres, e Vocational Training, em Tóquio.
Assessoria de Comunicação da OAB/SC